ESCOLA SEM PARTIDO, PARA PARTIDO SEM ESCOLA

A idéia é tão ridícula que eu não perderia meu tempo para falar sobre ela se hoje pela manhã não fosse inundada por um troll invejoso, com dor de cotovelo pelo sucesso do professor Leandro Karnal na TV esta semana.

Em suma: a idéia de escolas sem partido, sem política, não é nova. Desde que a escola foi inventada, houve quem tivesse medo da capacidade de alguns professores, que por sua eloquência argumentativa, convencessem alunos a seguir seus ideais. Diversas tentativas de mordaça foram feitas. Professores eram perseguidos, quando questionavam o dogma da Igreja, quando tentavam aplicar um pensamento científico ao invés de teológico.

Mais recentemente, tivemos a aplicação do dogma do nacional socialismo, na chamada ação da “Juventude Nazista”. Uma tentativa de combater o liberalismo e o comunismo das escolas tradicionais, com um ensino voltado para o dogma do partido Nacional Socialista.

Ali se fazia doutrinação, que é bem diferente do que vemos hoje nas escolas do Brasil.

Na educação da “Juventude Socialista” impunha-se o método da meritocracia. O jovem era inserido num universo em que a competição era por medalhas, como o sistema militar. Os jovens eram avaliados segundo a capacidade de disciplina e obediência, segundo a criatividade para realizar ações em favor da ideologia do partido, fossem elas ações sociais, ou projetos científicos. Os que conseguiam mais medalhas, ganhavam destaque, eram agraciados com posições dentro do partido, ingressando na hierarquia do mesmo. Os que eram “rebeldes”, eram convidados a se retirar, representado uma grande vergonha para suas famílias. Os que não eram retirados, sofriam punições por sua “fraqueza”, como serviços braçais considerados indignos e claro, um bulling incentivado pelos professores.

Não sei de nenhuma escola no Brasil que aplique as regras básicas da doutrinação que basicamente são duas: meritocracia e punição.

Aqui o que existe é pluralidade de opiniões políticas, que nem sempre são expressas, mas quando o são, são feitas sem qualquer ocultação. Logo, se a esquerda predomina no pensamento social do país, é obvio que teremos mais professores à esquerda, que à direita. A tentativa dessa direita ultra conservadora, nada mais é do que a de tentar suprira partir da força, uma carência de professores que defendam seus ideais .

Daí inventa-se uma História apolítica, uma Sociologia apolítica e há até quem defenda que tais matérias nem deviam estar no currículo. Dizem que ao invés de tratar sobre a Guerra Fria, ou sobre a Ditadura, os professores deviam falar da vitória do Brasil na Copa do Mundo, da beleza de Martha Rocha, da invenção da penicilina, ou do sutiã.

Essa História, tão decorativa quanto o Temer, serviria para que os alunos refletissem sobre o mundo (???)

E a política?

A política ficaria por conta dos pais. Os pais, estes seres conservadores por natureza, que  mesmo quando são da extrema esquerda, não querem que os filhos saiam na chuva, ou que usem drogas, ou que andem com más companhias. Os pais, estes seres que muitas vezes ficam parados no tempo, porque estão inseridos no mercado de trabalho e não tem ócio produtivo para ler e se atualizar. Os pais, estas criaturas santas que muitas vezes não estudaram, não sabem nada sobre política, ou qualquer outro assunto que fuja do conhecimento empírico que adquiriram.

Na verdade, a política ficaria por conta da mídia, né?

E de professores insidiosos.

Sim, porque a mídia não tem medo de ser parcial e se movimentar em bloco como se ela própria fosse um partido. Na verdade é um poder, como já foi dito antes, o “quarto poder”.

E o quanto pode ser pior um professor insidioso, que passa conteúdo político partidário de forma subliminar, sem que os alunos inocentes percebam que estão sendo manipulados, por informações e sugestões veladas?

Ninguém aqui acredita que a mídia possa ser imparcial. O que defendemos é que haja pluralidade de opiniões e que estas sejam claras, para que ninguém sofra desse insidioso partidarismo que nela existe de forma não muito velada, mas que também não é às claras e muito menos aberta ao debate.

Na sala de aula, o professor que expressa abertamente sua ideologia política, dá ao aluno a chance de combatê-la. Já o professor que a esconde, passa por isento quando não é e serve mais aos interesses partidários, na medida em que não é possível discutir aquilo que se toma por “indiscutível”, ou “proibido”.

Para finalizar, porque é chato escrever o óbvio, essa tentativa de amordaçar os professores não é novidade na História deste país. Conscientizar politicamente, gera um efeito cascata que começa na base social e termina, por exemplo, com corruptos na cadeia.

Se ao invés de uma História e Sociologia politizadas, formos obrigados a aplicar uma História e Sociologia decorativas, seria melhor então sair do ambiente escolar para um pasto bem grande e verdejante, onde pudéssemos viver a vida bovina, como querem estes expoentes do recalque a serviço do golpe. Uma escola “sem partido” serve somente para alimentar partidos de gente ignorante e desinformada, partidos sem educação, sem escola.

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